terça-feira, 13 de novembro de 2012

O PARAÍSO DO NARCOTRÁFICO


Quando o Exército depôs o presidente de Guiné-Bissau, faltando apenas meses para o término de seu mandato, a sede de poder do oficialato não explicou a ofensiva por completo. Mas um aumento nítido no tráfico de drogas no país, desde que os militares tomaram o poder, levanta suspeitas de que a deposição repentina do presidente foi o equivalente a um "golpe de cocaína".

O golpe levou os militares a controlarem o narcotráfico e o próprio país, convertendo a Guiné-Bissau, aos olhos de alguns especialistas internacionais no combate às drogas, num país onde drogas ilegais são toleradas nos primeiros escalões.

"O país é provavelmente o pior 'narco-Estado' do continente africano", comentou um funcionário sênior da DEA (Administração de Policiamento de Drogas), em Washington.

Desde o golpe de 12 de abril, mais aviões vêm fazendo a travessia do Atlântico, da América Latina até o oeste da África, pousando na Guiné-Bissau para descarregar cocaína que, em seguida, será enviada para o Norte, dizem especialistas.

A instabilidade política continuou quando soldados atacaram um quartel do Exército em 21 de outubro, numa aparente tentativa de derrubar o governo. Um capitão dissidente do Exército foi preso em 27 de outubro e acusado de ser o organizador da tentativa de contragolpe.

Entre abril e julho, houve pelo menos 20 pousos na Guiné-Bissau de aviões que representantes das Nações Unidas suspeitaram que transportassem carregamentos de droga. Os representantes da ONU dizem que a Europa, à qual já chegam cerca de 45 toneladas métricas por ano de cocaína da África ocidental, pode estar prestes a receber uma enxurrada muito maior da droga.

Teria o próprio golpe militar sido uma manobra para desviar a atenção do tráfico? Alguns especialistas dizem que, no momento em que Forças Armadas estavam tomando a Presidência, houve um surto de atividade intensa do narcotráfico em uma das ilhas do arquipélago de Bijagós.

Joaquin Gonzalez-Ducay, embaixador da União Europeia em Bissau, comentou: "A Guiné-Bissau é controlada por aqueles que deram o golpe de Estado. Eles podem fazer o que quiserem".

Funcionários da ONU concordam. "O golpe foi cometido por pessoas totalmente inseridas no tráfico de drogas", disse um representante.

O governo civil e a liderança militar guineense rejeitam as acusações.

"As pessoas dizem que sou traficante de drogas", falou o chefe do Estado-maior do Exército, o general Antonio Injai. "Quem tiver provas, que as apresente. Pedimos à comunidade internacional que nos dê os meios para combater as drogas."

Autoridades apontam vários indicadores para mostrar que a Guiné-Bissau se tornou um centro importante na rota do narcotráfico. Elas citam fotos de um trecho de estrada recentemente bem recuperada numa área remota perto da fronteira com o Senegal, completa com espaço para manobras de aviões de pequeno porte. A clareira teria sido criada sob a supervisão das autoridades militares. Também foram observados sumiços misteriosos de combustível no pequeno aeroporto da capital, presumivelmente roubado por traficantes.

Em três anos, já ocorreram mais de meia dúzia de assassinatos políticos não elucidados no país, incluindo os do presidente e do ex-chefe do Estado-maior do Exército, além de pelo menos outras duas tentativas de golpe. Até agora, ninguém foi julgado e condenado.

Em outubro, o ministro da Justiça do governo de transição avisou a políticos de oposição que não devem falar publicamente sobre "casos que não lhes dizem respeito", sob pena de serem criminalmente penalizados.

O general Injai ameaça jornalistas de morte quando eles fazem perguntas sobre os assassinatos políticos e avisou que haverá muitas prisões em decorrência da tentativa de contragolpe.

Fala-se pouco sobre os assassinatos políticos não solucionados ou as relações do país com o tráfico. "Um país que não é capaz de discutir seus próprios problemas não é um país, não é um Estado", falou Octávio Inocêncio Alves, ex-procurador-geral.

AN-JF

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