Continuam paradas 56 das 59 universidades federais brasileiras. Greve de quase três meses gera incertezas na vida de estudantes africanos no Brasil. Proposta do governo foi recusada por sindicatos.
Pelo menos mil estudantes africanos estão prejudicados devido à greve de professores e servidores nas universidades federais brasileiras, de acordo com números do Ministério da Educação (MEC). A paralisação começou em meados de maio e aumenta despesas de alunos estrangeiros que precisam pagar alojamento e alimentação durante mais tempo no Brasil.
O acesso à biblioteca e a outros serviços também foi interrompido. Segundo o presidente da União dos Estudantes Africanos em Brasília, Alberto Carvalho, muitos colegas não poderão visitar as famílias no fim do ano por causa da reposição das aulas atrasadas. “No fim do ano nós temos as férias prolongadas, só que com a greve, as aulas vão avançar no mês de dezembro e janeiro", explica.
"Os estudantes que iam passar o Natal com a família não vão ter condições de pagar cerca de US$ 1.400 em uma passagem aérea para ficar poucos dias. A maior parte acaba ficando no Brasil e também gastando mais enquanto está aqui”, lamenta o angolano.
Bibliotecas fechadas prejudicam principalmente alunos em fase final
Estudante de Relações Internacionais, Alberto está na reta final para concluir o mestrado na Universidade de Brasília (UnB). Por causa da greve, ele teve que interromper o andamento de sua tese. “Neste momento, eu preciso de cinco livros na biblioteca e não tenho como retirá-los. Tenho que esperar a greve acabar para poder solicitá-los e continuar escrevendo a minha dissertação”, reclama.
Atrasos na formatura geram mais despesas
Também estudante da UnB, Glaudenso da Costa é da Guiné-Bissau e deveria ter se formado em sociologia em junho, mas ainda não sabe quando poderá defender a tese para concluir o curso. "Você vem calculando um tempo para se formar e tem que contar pelo menos um ano a mais. Logo quando cheguei também peguei uma greve de três meses, sem contar outras tantas. Você sabe só o dia que você entra, mas nunca o que você sai", conta.
"Você sabe só o dia que você entra, mas nunca o que você sai", desabafa estudante guineense
"Além de tudo, você tem que pagar aluguel e alimentação sem ter produtividade na universidade", ressalta Glaudenso.
De acordo com o último censo do Ministério da Educação do Brasil, em 2010, quase 1.100 estudantes matriculados em universidades federais brasileiras eram da África lusófona: 420 cabo-verdianos, 380 guineenses, 178 angolanos, 61 são-tomenses e 40 moçambicanos.
De acordo com o último censo do Ministério da Educação do Brasil, em 2010, quase 1.100 estudantes matriculados em universidades federais brasileiras eram da África lusófona: 420 cabo-verdianos, 380 guineenses, 178 angolanos, 61 são-tomenses e 40 moçambicanos.
Governo e sindicatos em desacordo
Atualmente, calcula-se um número mais alto devido à maior quantidade de novos alunos, comparados aos que se formam por ano, segundo informações do Ministério das Relações Exteriores. Além disso, outros países da África também enviam estudantes ao Brasil.
O governo brasileiro propôs um aumento salarial de 25% a 40% aos professores universitários a ser ajustado gradualmente até 2015, além de alterações no plano de carreira da categoria e novas contratações.
O governo brasileiro propôs um aumento salarial de 25% a 40% aos professores universitários a ser ajustado gradualmente até 2015, além de alterações no plano de carreira da categoria e novas contratações.
Já os servidores administrativos receberam uma proposta oficial de 15% de reajuste no salário. Os sindicatos, no entanto, consideram as negociações insuficientes e pedem uma reforma estrutural no plano de carreira, além de um aumento maior. Uma série de assembleias está em andamento para avaliar a continuidade da greve nas universidades federais brasileiras.
Fonte: DW.DE
Fonte: DW.DE
Autora: Patrícia Álvares
Edição: António Rocha / Renate Krieger
Edição: António Rocha / Renate Krieger
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